sábado, abril 01, 2006

Metafísica da vida cotidiana

por Rodrigo Barros Gewehr
Há muita gente querendo opinar.
Poucas dispostas a ouvir.
Há muita gente com certezas,
Portanto incapazes de acolher a dúvida.
Minh'alma está em alvoroço.
A cada momento repito que estou em paz,
E isso é prova de que não estou.
A paz não tolera condicionamentos.
Minh'alma clama por sossego,
Mas a perspectiva de agir em sua busca
Assombra de tal maneira meu ser
Que o fantasma da desistência parece concreto.
É quando toda imagem de liberdade
Subitamente converte-se em ilusão,
E tudo que parecia rumar ao Norte
De repente aparece navegando ao Sul.
Compreendo que a dúvida pode ser disfarce,
Assim como a certeza em geral é prisão.
Quando nem a dúvida nem a certeza resistem
É que emerge um impulso desprovido de máculas.
Certeiro é o tiro que se atira por si só.Eu...
Eu perco-me em divagações e aforismos,
Retrocedo e recuo quando pareço estar próximo,
Como forma de sustentar o conforto e a lamentação:
Conforto da vida estabelecida e calma.
Lamentação pela vida intuída mas não vivida.
Conforto pela segurança que o lamento gera.
Lamento pela sensação de estar preso ao conforto.
Oxalá eu não sucumba ao me permitir partir...
Oxalá eu não adoeça ao buscar saúde...
Oxalá eu não pereça por querer viver...
O equívoco é a moeda de troca do acerto.
O desvio de alguns graus apenas
Basta para fazer da boa intenção um inferno.
Mas quem age por boa intenção não é puro.
Puro é quem age num imperativo est(ético).
Quem é agido a partir de dentro,
Desde aquém das ilusões que fundamentam o agir,
Muito além das razões altruístas ou egoístas.
Quem dera eu soubesse ser assim!Mas não.
Vivo na paranóia da certeza,Sempre incerto de estar certo...
O que não deixa de ser uma certeza ao inverso,
A qual, todavia, paralisa e cala.

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